23.6.08

Dazaranha... Se quéis quéis, se não quéis diz...

Por Caroline Grechi

Um casamento entre o violino, a guitarra e o berimbau. Um casamento entre a cultura catarinense e a música de estilo único. Um casamento que já dura 15 anos.
Adauto, Adriano, Chico, Fernando, Gazu, Gerry e Moriel. Uma banda. Uma história.

Segurando o gravador com as mãos suadas e trêmulas, esta roqueira integrante “do quarto” conseguiu uma entrevista exclusiva antes do show que aconteceu dia 31/05, em Araranguá.

Com a maçaneta da porta do camarim caindo a cada meio segundo, quedas de luz eventuais, e o DJ tentando quebrar a barreira do som, segui-se a entrevista com o Fernando (toca violino, além de guitarra, baixo... E uma hora ele foi pra percussão também...) e o Chico (Guitarrista solo. O Guitarrista solo).
Então... Vamos aos fatos!




De onde veio o nome da banda?

Fernando: Em Florianópolis nós temos a ilha Dazaranhas, que fica perto da ponta Dazaranhas, numa praia chamada praia do Moçambique. E é um lugar de nativos, que ainda tá bem preservado e tal. Dali saiu essa inspiração, da natureza. E também do Raul Seixas né, nosso grande mestre.

Fernando, como tu achas que o violino contribui pro som da banda? A mistura do rock com o clássico, uma coisa que não é muito comum.

Fernando: O violino no rock? Na verdade ele se encaixa mais ou menos com o Chico que ta junto aqui com a gente na entrevista (oláá! Diz o Chico acenando pro gravador). Eu bato muita bola com o Chico na história de arranjos, o violino no rock ’n roll bate muito com o arranjo da guitarra, então se não rolar uma parceria a gente acaba chocando um com o outro e não aparece nem o arranjo dele nem o meu. Então a gente presta muita atenção porque daí nasce a harmonia, porque a harmonia vem antes de tudo.

Chico: É bem isso que o Fernando falou mesmo, temos que trabalhar juntos. E na verdade acaba se criando um novo timbre, até as pessoas comentam que o Dazaranha tem uma característica que é a guitarra distorcida e o violino que é um instrumento clássico, uma coisa mais leve. Isso acaba criando um elemento novo e bacana, é um lance ousado ver o violino tão presente como um instrumento só, não sendo um naipe. Numa banda de rock, acho que a experiência mais ousada que eu posso ver no Brasil, se falando nisso, é o Dazaranha.

Vocês acham que o fato de falar das coisas de SC acaba gerando um tipo de rejeição das pessoas de outros estados ou até mesmo daqui mesmo, de pessoas que não dão valor às coisas da terra? Músicas que falam da cultura de Floripa e tal... O pessoal quer saber mais das coisas que vem de fora... Vocês sentem isso?


Chico: Eu tenho a impressão que isso é uma coisa meio cultural... Geralmente as grandes bandas e artistas vêm de outros estados, SP geralmente, ou do RJ. Lugares que se desenvolveram antes e que ofereceram mais condições pra que essas coisas acontecessem. Talvez a falta de tradição aqui com relação a isso tenha criado essa tendência de acreditar mais nas coisas que vem de fora. Mas hoje em dia com o avanço da tecnologia, com a internet e com a facilidade que se tem de gravar, tu expõe a tua obra de uma forma mais fácil, chega mais rápido ao público. Acho que estamos tentando mostrar que aqui tem coisa de qualidade também. SC cresceu muito, nos últimos 10 anos surgiram muitas bandas, acho que isso ta realmente mudando.

Fernando: Até complementando a historia do Chico, a gente tem se preocupado também com o lance de harmonizar as bandas de SC. Temos vários amigos, de muitos anos, varias bandas, e não daria pra citar todas aqui porque a gente sempre vai esquecer de alguma. Hoje por exemplo estamos tocando com a Nós na Aldeia, uma banda que já tem uma história junto com o Daza. O Macarrão (vocalista) participou de um disco nosso, eu e o Chico participamos de um disco deles, então temos criado uma história por aqui. E não tem como alimentar e colocar mais combustível pra que vire uma coisa nacional, até mesmo porque se agente botar combustível a mais, seria botar dinheiro a mais, seria criar uma coisa fake, uma coisa fabricada. Talvez esta seja a fraqueza e a riqueza da música catarinense.


E vamos dizer que vocês fossem se lançar pro RJ e SP, o pessoal lá ia querer conhecer músicas de vocês que nós de SC já conhecemos. Concordam que ficaria cansativo pra gente “conhecer de novo” digamos assim? Como foi o caso do Papas da Língua, eles lançaram a “Eu sei” pra todo país e isso foi motivo de muito orgulho, porém o pessoal daqui também esperava musicas novas, e teve que respeitar o momento das outras pessoas conhecerem o som. Já era a terceira vez que éramos apresentados a “Eu sei” (com o formato original, com o Acústico ao Vivo, e novamente só voz e violão). Como se vocês fossem relançar a “Vagabundo confesso”, por exemplo.

Chico: Eu acho que o artista nessa hora, naturalmente amadurece a interpretação de uma obra. Às vezes é isso que acontece com o Daza, e com outras bandas que eu vejo. Durante 15 anos como é o nosso caso, nós tocamos a “Vagabundo”, por exemplo. Não é uma música diferente, mas é uma interpretação diferente, que melhorou na minha opinião, e é mais atual também. Eu acho que obrigatoriamente o artista tem que dar pelo menos uma roupagem nova pra ele poder relançar isso no mercado.

Fernando: Isso é uma coisa natural. Por exemplo, essa versão que tu falas da “Eu sei”, o Papas lançou ela originalmente e relançou numa roupagem acústica. E é uma coisa que o Dazaranha nunca teve, mas que ta planejando. Lançamos 4 discos de estúdio e não temos nenhum registro ao vivo, e quando lançarmos um trabalho ao vivo, seja um CD, um DVD ou os dois, naturalmente vai ter a “Vagabundo”. Pode soar como relançamento, mas não é, isso todas as grandes bandas fizeram. Até eu uso um exemplo que são os Rolling Stones que são uma excelente banda, a gente ainda ta começando perto da carreira deles, mas eles por mais que lancem discos sempre vão ter “Satisfaction” no set list, por exemplo.

Mas... No caso do Papas, foram três vezes né.. A original, a do Acústico ao Vivo que todo mundo curtiu com a nova roupagem... E depois quase que a original de novo... Que a gente conheceu primeiro.

Chico: Ah ta... Aí sim, eu acho que nesse caso as pessoas que já conheciam devem ter achado que eles “meio que forçaram a barra”, difícil de mudar... “Pô eu já conheço essa música há tempos...”. Mas é o seguinte, essas pessoas vão ter que se conformar porque a banda precisa atingir outro público, os estados aqui do Sul conhecem mais têm todos os outros que não conhecem, se tiver a oportunidade de lançar o som de novo, vale a pena.

E o que vocês acham da música brasileira atual, as coisas novas que estão surgindo no Brasil, na grande mídia?

Chico: Acho que tem coisas boas, e tem temas que na verdade estão se repetindo... Ou será que são imortais?... Eu não sei... Tem coisas que naturalmente não vou comprar o disco. Infelizmente é difícil eu ouvir um pagode que me agrade, que eu goste e vá lá comprar o CD... A não ser de repente o Zeca Pagodinho, essa turma mais purista. Mas eu vejo muita coisa boa, várias bandas que estão acontecendo, Jota Quest, Skank, O Rappa... Mas sempre teve isso na música, na verdade. Uma galera meio brega caminhando junto com uma galera mais conceitual, uma galera mais rebelde, uma galera mais da pesada, uma mais punk...

Se vocês acompanharam, o que acharam do premio Tim de Música?

Chico e Fernando:
Não vi. - Risos

Pergunto porque eu vejo que os ganhadores são basicamente os mesmos todos os anos, mesmas duplas, bandas.. E a surpresa esse ano, pelo menos pra mim, foi o Vitor Ramil que ganhou como melhor cantor por voto popular...

Fernando: Opa, o Vitor... Mas o Vitor não é revelação né... É de tempos...

Fernando: Posso falar uma coisa que aconteceu hoje? Falando em prêmios... Primeiro tu considera a situação seguinte. No Big Brother, um bando de bacanas vai lá fazer pose e tentar ganhar 1 milhão. Um produto da Globo, porque enfim a Globo trabalha com isso, com produtos. Aí fazem os prêmios... Prêmio Tim, o prêmio tal... A gente já ganhou prêmios, disco de ouro pelo CD “Tribo da Lua” e Prêmio Claro de Música Independente pelo disco “Nossa Barulheira”. E hoje teve o prêmio que o Luciano Huck deu pra um rapaz, o Éder. Chico olhasse hoje? O guri ganhou 100 mil reais como prêmio de soletração. Os caras passaram o ano inteiro discutindo educação, e tal e deram 100 mil pro guri. E me vai um bando de bacanas aparecer na TV pra ganhar um milhão? Pô, não era pra ser o contrário? Cara eu tava lá de tarde vendo televisão e não sabia soletrar aquelas palavras. Era pra ser 1 milhão pro menino e 100 mil pro bacana..

Chico: Isso é uma questão que acontece no Brasil e no mundo... A cultura ocidental já valoriza umas coisas que a gente acha que não é justo, muitas vezes dá pra ver que não é justo né...

Fernando, se tu conheces o Maná, que está em turnê agora pelo Brasil. Se tu gostas, tens alguma influência...

Fernando: Eu não sou fã... Conheço mas não é o tipo de artista que me agrada e tal, que eu compraria o CD. Na verdade pode ser um pouco de desapego meu. Mas eu sei que eles trabalham bastante o lado internacional, assim como o Fito Paes que tem uma divulgação legal no Brasil e que fez um trabalho bacana com o Paralamas... Meio que quebrou o gelo né? Das fronteiras entre o Brasil e os países latinos. Mas eu não tenho muito apego com o Maná não.

Um mico inesquecível de alguém da banda.

Fernando: São coisas que o cara tenta esquecer, quando pede pra lembrar fica meio difícil... - risos
Chico: Entrar na música errada, a banda tocando uma e tu entrar achando que é outra... Cantar o trecho de uma outra música, esquecer a letra, além de vários choques, tombos... Por aí vai...

Fernando, uma superstição que tu tem ou que alguém da banda tenha antes do show... Entrar com pé direito.. Enfim..

Fernando: Superstição antes do show, bom como tu ta presenciando, torcer pra que o gerador agüente até o fim – risos.
(alguns minutos antes da pergunta havia faltado luz, eheheh)


O Dazaranha em uma frase:

Fernando: família.
Chico: Eu arrisco que seria... Boa música.
Moriel: Dazaranha é comer feijão com detergente, dormir na chuva e dormir contente, não confundir a coca com acoca e fazer de cócoras.
Adauto: minha vida.
Adriano: Ai meu Deus do céu.
Gazu: O Dazaranha ta rico, o Dazaranha ta pobre, o Dazaranha ta Reggae, o Dazaranha ta Rock, o Dazaranha pirou de vez!
Gerry: (a tonta da repórter esqueceu )



*off de ¼ cheio: Vamos abrir a porta do camarim e a fechadura cai pelo lado de dentro, fazendo um som estridente e rolando pra atrás do sofá. Fernando olha pra mim e diz: vai vendo ó. (breve explicação, esta humilde futura repórter também está adentrando no universo da música. Entendi que ainda vou passar por muitas maçanetas caindo e muitos geradores de luz instáveis ).
* Sandro Adriano da Costa, esse é o nome do Gazu!
* Quando perguntei “o Dazaranha em uma frase” pro Adriano, baterista, ele ficou vários segundos em silêncio, pensando e pensando (eu podia ver o seu cérebro trabalhando loucamente atrás de uma resposta) Então lançou um olhar perdido pra mim e disse: “Ai meu Deus do céu!”. Perfeito!
* O Fernando atualmente ta apaixonado por TANGO!
* ele também foi ao show
do Hellowen (na grade! uhul!!) e só não foi no do Iron porque tinha show do Daza.

3 comentários:

Cristina Possamai disse...

Grande entrevista, Carol!
Daqui da nossa região, o Daza é realmente o grande nome musical...Ao meu ver, é claro!
O som deles é demais e pelas respostas, os caras não ficam por menos! Parabéns, ficou ótima a matéria!


Passa lá no Crônica e depois e adiciona a gente, né?
Beijos

Anônimo disse...

A entrevista foi ótima, pena que o Daza esta esquecido no cenário musical da ILHA, hoje em dia o Clube da Luta (com bandas Maltines, Aerocirco e etc ..) dominam a parada, mais a banda Daza continua pra mim sendo a segunda melhor banda do estado, pois a primeira ninguém supera a antiga banda "Expresso Rural", mais há espaços ainda para o Daza voltar a ser a melhor banda do estado, mais agora com a onda da internet, várias bandas estão aparecendo no cenário de SC: Aerocirco, Maltines, Liss, The Dramaphones, Parachamas, Display, Calvin ... a luta continua, viva o Rock Catarinense ... b-jus Carol.

Cláudio Toldo disse...

Muitos bons o texto e a entrevista. Podia caprichar mais na revisão para acentuar algumas palavras. NOTA: 9,5.