2.9.11

Paixonites


Por Carol Grechi

22 anos e já tenho vergonha do que eu fiz. Sim, estou lutando pros deuses do rock não me mandarem para o inferno quando descobrirem meu histórico de gosto musical.

Infância: Xuxa (a velhinha dos baixinhos), Eliana , Chiquititas, e o que ainda salva um pouco, Mamonas Assassinas.

Agora a coisa desanda de vez. Pré-adolescência: Rouge (ai meu Deus) com direito a coreografia, Broz, com direito a posters CD original (!!) e coreografia, Pedro e Thiago (lembra de quem são filhos?) além de uma pastosa combinação disso tudo com pagode, sertanejo e axé. Estou condenada.

Vou passar a eternidade sendo torturada com a Joelma em uma orelha e a culpada original, a Xuxa, na outra.

Depois de passar dias ao lado do rádio ouvindo repetidamente “sim, sim, sim, este amor é tão profundo, você é minha prometida eu vou gritar pra todo mundo” (rimar mundo com profundo, sem comentários) os hormônios do crescimento devem ter dado um tiro na orelha do meu gosto musical, porque conheci o rock gaúcho.

Ah, o famoso clichê “Rock Gaúcho”, que hoje já abrange tanta coisa que acabou ficando vago. Lá por 2003 encarnei nas seguintes bandas: Papas da Língua, quando o resto do Brasil ainda “não sabia” quem eram (sentiu o trocadilho com a “eu sei”?); as pirações da Cachorro Grande no Acústico MTV bandas gaúchas, que também trazia a sonzeira sambarock da extinta Ultramen, as letras engraçadas da Bidê ou Balde e a esquisitice cômica do Wander Wilder. Também encarnei em Nenhum de Nós, com direito a análise geométrica da camisa doidona do Thedy no DVD Acústico 2; além de também ter passado horas cantando a “ana banana” do TNT.

Agora deixei um parágrafo reservado para a resistência. Aqueles que dão voltas no meu ciclo de “encarnação musical” e sempre retornam. Cidadão Quem, Engenheiros do Hawaii, Pouca Vogal, Vera Loca, Pública, Acústicos e Valvulados e Dazaranha (ó, um catarinense no meio dos tchês!).

Eu ainda não parei pra tentar entender esse meu ciclo de fixação, tem períodos que ouço um CD (modo de dizer, ouço no mp3) repetidas vezes, por vários dias, ou semanas, meses... até encher, ou melhor, até estourar o saco. Aí do nada dá vontade de ouvir outra banda, ouço até dizer chega, vejo o DVD, leio os livros (como no caso do Duca Leindecker, meu mestre mor, da Cidadão Quem e agora Pouca Vogal), entro no site, vejo fotos, vídeos e o que mais exisitir, até dar um “estalo” e eu ficar afim de ouvir outra coisa.

De sons internacionais passei uma fase longa encarnada em Maná. Passou. Reconheço as músicas quando ouço, mas não tenho mais vontade de procurar pra ouvir. Passei pela fase Cold Play, que ainda resgato saudosa lá vez outra. Mais recentemente pela fase Keane, que ainda perambula pelo mp3. E ainda mais recentemente, coisa de um mês, estou ouvindo Hugh Laurie Blues Band.

Essa é a paixão da vez. O tal do Huhg Laurie é o protagonista do seriado House, e no momento tudo que tenha a ver com o seriado me atrai. Temporadas pra baixar, conhecer a história, os atores e... Lá estava o charmosão do Hugh lançando seu primeiro CD de blues. Baixei pela minha “quedinha” por ele, mas não consigo parar de ouvir. Até os ignorantes neurônios responsáveis pela tradução das letras parecem estar se multiplicando, de tanto que ouço já entendo o que ele está cantando, mesmo que não seja exatamente o que ele está dizendo. Hum? Não tem que ter explicação. Estou encarnada até os ossos no Hugh Laurie, no blues e no médico ranzinza que ele interpreta há sete anos. Ai, ai.

Cidadão Quem, Engenheiros, Pouca Vogal, e Dazaranha ainda estão ali no mp3, esperando a vez na fila do retorno, mas por enquanto nada. O da vez é o Hugh. Replay, replay e replay. Vai entender.

De Xuxa pra blues, será que os deuses do rock perdoam?






Crônica publicada dia 01/09/2001 na página 6 do jornal Diário de Notícias.

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