Quantas pessoas passam por nossas vidas, convivem conosco por um bom tempo e depois somem? Não, não se preocupe porque não vou filosofar sobre o desapego humano e muito menos sobre aquele filme que passa na Sessão da Tarde desde que eu tinha sete anos. Aliás, podemos começar por lá.
Quando eu tinha sete anos morava no Rio Grande do Sul e tinha quatro vizinhos com quem eu brincava. A Kelly, que me chamava de Carolina (eu ainda não dava bola quando erravam o meu nome) e era uma caricatura ambulante da Olívia palito, além de possuir uma impressionante capacidade de gritar enquanto brincava com qualquer coisa. O Luan, irmão mais novo dela, que estragava nossas brincadeiras como todo irmão mais novo deve fazer.
A Pâmela, que era mais velha do que nós duas e estava na fase pré-adolescente encarnada nos “Pies descalzos” da Shakira. E por último tínhamos o Matheus, uns três anos mais novo do que eu. Passávamos mais tempo na casa da avó dele brincando de Barbie, (na real ele brincava com uma Susi herdada da tia dele) desenhando Brancas de Neve com lápis de cor e fazendo comidinha, do que em qualquer outro lugar.
Engraçado, com a Kelly eu me ralava subindo em árvores, brincando de polícia e bandido, dublando os Mamonas Assassinas... E com o Matheus eu desenhava contos de fada e brincava de “cozinhar” folhas de árvore com punhados de arroz cru.
Me mudei para SC quando tinha nove anos. Fiz outros amiguinhos que também já não sei onde foram parar... E agora eu me pergunto: Como estarão aquelas quatro pessoas? Não tenho a imagem de uma Kelly na minha idade atual, não imagino a Pâmela sem suas calças ripongas, o Luan sem sua pancinha e seu nariz ranhento e o Matheus sem sua Susi.
Falta a continuação da história. É claro que só dei um exemplo, eu poderia listar as outras inúmeras pessoas que fizeram parte da minha vida por algum tempo e depois viraram só lembrança. Aposto que você que está lendo aí já lembrou de alguém que ficou na sua cabeça com uma história sem fim.
Tentei procurar alguns deles na internet, mas, mesmo que eu encontrasse o que eu iria dizer? “oi, lembra aquela vizinha gordinha que vivia caindo de Roller e brincando contigo? Pois é, sou eu. Como vai a vida?”. Seria bizarro, a pessoa ia ter que fazer um levantamento dos últimos 15 anos ou então fazer um resumão e dizer apenas “ por aqui tudo bem”. O que não serviria em nada pra matar minha curiosidade. Já perdemos a ligação, não tem mais graça.
Acho que é mais legal guardar uma lembrança de amizade do que forçar uma falsa cumplicidade depois que duas pessoas já não tem mais nada a ver.
Se alguma pessoa com quem eu convivi por acaso ler isto e ficar curiosa sobre a continuação da minha história, lá vai o resumão: faz tempo que não caio e ralo os joelhos (até mesmo porque faz tempo que não subo em árvores, ando de Roller, bicicleta, brinco de pega-pega, etc..), Continuo sem irmãos, continuo gostando de desenhar, brincar de Lego, imaginar a história das pessoas (não diga!), cantar, ver filmes por horas e horas (o Dr. House que o diga), e continuo sendo a mesma Caroline dos meus sete anos. Apenas com dentes permanentes, um pouco mais alta e ainda um pouco acima do peso.
Continuei sendo uma boa aluna (saí daí ô... Cdf), aprendi a tocar violão, ainda não aprendi a tocar teclado e violino, me formei no segundo Grau, entrei pra faculdade de jornalismo, me formei mês passado, estou morando e trabalhando em Criciúma e namorando há quase três anos. Resumir 15 anos em 10 linhas até que é legal. Quem não me conhece agora acha que me conhece.
Aliás, quinta-feira que vem já sei sobre o que vou escrever. As histórias sem fim de quem a gente não conhece. Como assim? Sei lá, tenho uma semana pra pensar. Então, até mais! O barulho da chuva lá fora me diz que estou atrasada pra me encontrar com um balde de pipoca, uma cama fofinha, e com o Hugh Laurie para mais uma incansável maratona House. Ó vida cruel.
Crônica publicada dia 08/09/2001 na página 6 do jornal Diário de Notícias.
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