Por Carol Grechi
Não adianta, as palavras curtir e compartilhar já viraram
expressões que usamos fora da internet, tamanha freqüência com que precisamos
delas pra nos expressar.
Quando alguém vem compartilhar algo comigo pessoalmente,
numa conversa, concentro toda minha atenção no que a pessoa está dizendo.
Aquele teu amigo que gosta muito de determinado assunto e vem todo empolgado te
contar algo de novo sobre aquilo...
Às vezes ele pergunta “sabe aquele filme? Aquele ator?
Aquela banda?”
Bah! Quase sempre sou sincera e, se não sei do que ele tá falando, digo que realmente não sei do que ele tá falando. Aí a conversa acaba
patinando numa explicação breve pra ver se você lembra logo e pra pessoa seguir
com a linha de raciocínio.
Mas há aqueles momentos
em que a pessoa está tão empolgada, que abre um sorriso e pergunta “tu lembra
aquele filme tal tal tal?”, e eu simplesmente não sou capaz de desfazer aquela
empolgação com um “não”.
Eu confesso. Há ocasiões em que não tenho a menor idéia do
que a pessoa ta falando, mas digo “ahã” só pra ela continuar me contando sobre
o assunto com a mesma empolgação. Não dá, não consigo interromper aquele
falatório tão feliz. Azar o meu se eu não sacar que o ator é o daquele filme ou
não, prefiro continuar apenas ouvindo com atenção até a pessoa chegar num ponto final. Aí
tento pescar algumas referências como quem não quer nada, pra ver se me acho no
assunto... Curtiu? Unlike?
Outra coisa que lembrei agora e tem a ver com isso. Certa
vez um amigo me disse que quando ele pergunta a opinião de algo a uma pessoa,
um livro, por exemplo, e ela diz apenas “legal, muito massa, etc...”, pra ele é
o mesmo que a pessoa não ter lido. Não ter uma opinião definida pra discutir
depois sobre o assunto, pra ele isso é empobrecedor.
Eu discordo. No caso de livros e filmes. Há aqueles que te
fazem ficar pensativo após a última página/cena. Se te fizeram continuar
pensando sobre o assunto após o término, aí sim, teve alguma mensagem que foi
importante pra ti, algo com que você se identificou e que gerou toda uma cadeia
de pensamentos e opiniões sobre aquele assunto.
Mas há casos em que não. Pelo menos comigo é assim.
O processo de leitura pode ser interessante e prazeroso, mas,
nem sempre tenho vontade de recapitular tudo o que li pra definir minha opinião
sobre aquilo. Geralmente isso vai acontecendo durante a leitura, mas eu
resmungo pra mim mesma quando algo me chama atenção. Não saio escrevendo
resenhas profundas a cada ponto interessante.
Consegui fazer uma lista com os livros que li até hoje,
comecei na escola e consegui ir atualizando com as leituras que se seguiram.
Dentre os cento e poucos, há títulos que já
engatilham minha memória sobre o assunto do livro. Mas há alguns que eu sei que
gostei, pois me trazem recordações boas, mas não lembro exatamente do que
falam.
Li Dostoiévski pela fama do autor e achei o livro “Notas do
subterrâneo” recheado de um humor sarcástico que me agradou. Achei muito louco!
Aí quase ouço esse meu amigo falando “ta, mas, e o que mais? Qual foi a
mensagem que ele te passou?” e tenho que responder simplesmente pra essa voz
fantasma: não lembro. Lembro que achei legal, mas, só. Nenhum discurso
filosófico/político. Eu gostei bastante porque me identifiquei com algumas
coisas, mas, só.
Minha memória é curta pra livros, acho que depois de uns dois dias eu arquivo tudo que li numa pasta lá fundão do cérebro. Quando eu leio o mesmo livro pela segunda vez (depois de certo tempo da primeira leitura), tenho noção do básico que vou encontrar, mas o geral já foi pra lixeira. É como se estivesse aprendendo tudo de novo.
O livro Cem anos de solidão, do Gabriel García Márquez, é um que eu adoro. Estou sempre lendo. Eu sei o enredo da história mais ou menos, mas os detalhes sempre me encantam como se fossem novidade.
Mas me recordo que quando eu meu namorado vimos o filme “Um
ensaio sobre a cegueira” no cinema, saímos conversando do Criciúma Shopping e caminhamos
do bairro Próspera até o centro sem nem perceber (é uma boa "pernada"!), de tão envolvidos na conversa sobre o
filme. Rendeu, até hoje rende. Sempre tenho observações a fazer sobre essa história, por mais vezes que eu a assista.
O próprio fato de eu ser jornalista já traz aquele velho
estigma de “formadora de opinião”.
Grande ironia, não?
O que tu acha sobre isso?
--
(usei essa pergunta pra encerrar o texto pela gracinha
irônica, mas acredito que seguindo meu discurso, a pergunta ecoará eternamente
pelo Quarto)
Nenhum comentário:
Postar um comentário