24.9.12

Volte sempre




Por Carol Grechi

Até onde minha memória alcança, sempre gostei de viajar de ônibus. Não me refiro ao circular de Novo Hamburgo, os amarelinhos de Criciúma ou a Viação Cidade - Arroio do Silva/Araranguá. Falo de pegar um ônibus pra outro estado ou então, aqui mesmo em SC, só que pra mais longe... Sozinha, então... Bah! Mais expectativa ainda por entregar a passagem, subir o primeiro degrau e procurar o meu lugar entre os numerozinhos luminosos.

Umas boas horas de música garantidas no mp3 (sim, ainda não tenho smartphone, tragam os pregos e a cruz) e um lugar na janela. Com isso viajo bem mais que os km podem contar.

Lembro de vir pra Santa Catarina de ônibus, eu e minha mãe, nas férias de verão.

Como as pilhas do walkman não duravam o suficiente para repetir a fita k7 dos Mamonas Assassinas, a pobre da Dona Neusa vinha jogando “mundo animal” comigo o caminho todo (aquele jogo em que temos que falar nomes de animais iniciados com determinada letra). Imagino a paciência dos demais no ônibus ouvindo o duelo interminável. Eu hoje me mandaria dormir no segundo “muuuundo a ni... maal!”. Mentira. Me irrito em silêncio. Me livraria do vozerio infantil apenas virando pro lado e aumentando o volume nos meus fones de ouvido.

Claro que a graça de ir pra Porto Alegre é parar no 86 pra esticar as pernas e reclamar do preço das coisas. E a graça de ir pra Floripa, logicamente, é ver a ponte Hercílio Luz dando boas vindas enquanto o ônibus contorna as bandeiras gigantes ilhadas naquele laguinho perto do terminal Rita Maria. Que sempre chamo de Maria Rita antes de cantarolar “o trem que chega é o mesmo trem da partiiiiida...”

O bom de viajar sozinha é simplesmente aproveitar aquelas horas pra ficar de boa, vendo a paisagem, curtindo as musiquinhas...

O ruim é não ter alguém pra te dizer que você está dormindo com a boca aberta (e geralmente babando) há algum tempo. Ou ter que ir no banheiro e deixar a bolsa sozinha. Mal dá pra se segurar em pé em banheiro de ônibus, levar a bolsa junto, então...
Xixi no pé é pouco.

E ainda o velho medo de quem sentará ao seu lado.

(   ) Um senhor tagarela que ignora seus fones e puxa assunto reclamando que esqueceu o remédio da pressão, resmungando sobre doenças e falecidos o caminho todo, enquanto você balança a cabeça e diz “pois é”, “complicado” e “aham”.

(   ) Uma criança que não conseguiu lugar ao lado da mãe e que passa o caminho todo comendo Cheetos bola, limpando o nariz no estofamento da banco e te encarando pra ver se você olha. Meu modo pacífico vira pra janela e a ignora. Mas se ela der o azar de me encarar naquela semana do mês... Devolvo o olhar com a mesma intenção (e com a minha melhor cara de má) até ela piscar e sair resmungando “manhêêê...”

(   )  Qualquer pessoa, de qualquer gênero e idade, que esteja com odores desagradavelmente invasivos.

(   )  Uma outra pessoa com fones de ouvido e/ou livro, que lhe cumprimenta com um sorriso e coexiste em harmonia até que o ônibus chegue ao seu destino.


A última opção é um presente que o acaso lhe dá, derivando da sua escolha de empresa de ônibus, horário escolhido e destino da viagem. Não tão raro pra ser tipo Mega Sena. Mais pra Quina...

Hum... viajei tanto no texto que perdi o ponto pra descer na parte certa onde ele se encerra. Vou puxando a cordinha por aqui mesmo. Tenho que pegar o Vila Zuleima, que deve estar saindo do terminal central de Criciúma nesse momento.

Continuamos a conversa depois...

Mas a janela é minha.

3 comentários:

Unknown disse...

Achei mais uma maluca que como eu gosta mais de viajar de bus do que de avião.

Blogger de **1/4 Cheio** disse...

Mentes brilhantes pensam igual, meu caro Chicuta... Mentes brilhantes pensam igual... :) (e eu cheia de viagens de avião no meu histórico uaheuahea)

camyli alessandra da silva disse...

a Sensação que tenho de ver a ponte Hercilio Luz é que eu peguei o onibus errado hehehe mas a sensação de chegar em POA em exatamente 45 minutos... NÃO TEM PREÇO ou tem e é bem caro se não for na promoção
quanto tempo eu não passo por aqui...