30.11.09

Nada está tão ruim, que não possa piorar




Por Carol Grechi

A vida é feita de fases. Calma, não falarei sobre filosofia ou pensadores caquéticos que disseram algo memorável. Falarei para você, meu querido e sofrido pobre. Sei bem que a vida “pra nós” é feita de fases, e daqui a pouco você vai passar a concordar comigo.

O ano começa. Aquela papagaiada toda de "tudo novo", "tudo será diferente", etc. etc...

Mas todos os anos há aquela fase onde tudo dá errado. Você recebe uma bela mijada no trabalho e uma gripe, daquelas de derrubar rinoceronte, começa a penetrar seu sistema imunológico como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Com o nariz parecendo um vermelho esguicho, espirrando a cada meio minuto, você vai pra casa.

Ao chegar, liga a TV e vai esquentar um leite pra tomar café. Enquanto vigia o leite pra não derramar e anseia por devorar seu fresquinho pão d'água, a luz começa a oscilar e a ficar em uma fase só, então se vai de uma vez. A luz se foi, e com ela a sua TV que acaba de queimar. Por mais que você reze e role as pilhas palito do seu controle remoto (isso às vezes funciona) a TV não liga mais. Ela se foi, meus pêsames.

Ainda amaldiçoando a instabilidade elétrica de sua cidade, corre pra cozinha com a certeza de que o leite há essa hora já está cobrindo o fogão inteiro. Nada disso. O leite está morno e o fogo apagado. Acabou o gás.

Puta merda, você "chuleou" pra que ele durasse o máximo possível. Nem usou o forno pra não gastar o coitado. E depois de 5 meses, o pobre gás também se foi, deixando apenas um leve odor para lembrar sua existência.

A essas alturas a fome já não é mais a mesma, ainda assim o leite morno vai para a sua caneca preferida e ao se virar para pegar a margarina, seu cotovelo esbarra na caneca e ela vai caindo em direção ao chão, como se estivesse em câmera lenta. Segundo depois, cacos de porcelana envoltos em uma poça de leite morno inundam a sala.

Você respira bem fundo, pensando que deve se benzer urgentemente (ou então dá um berro de raiva, o que é perfeitamente aceitável). Depois de limpar a lambuzeira do leite, não há mais nada a fazer senão dormir. Às 9 da noite. A TV está queimada, a luz ainda não voltou, suas pilhas do mp3 estão descarregadas e seu livro preferido ficou no trabalho (mesmo que estivesse em casa, as velas acabaram, não daria pra ler o livro). Antes de se deitar espirrando, ainda dá uma topada no pé da cama, fazendo seu dedinho do pé ficar numa posição esquisita por uma semana.

Então, boa noite querido. Se não tiver pesadelos.

E lembre-se, meu amigo de baixa condição monetária, de que isto é apenas uma fase e que todo ano você passa por ela e depois a esquece. Depois as coisas boas começam a acontecer e você fica todo contente por um longo, longo, tempo.

A vida é assim. Pelo menos a vida de pobre é assim. o/ Até.

26.11.09

Banri o quê?



Por Carol Grechi

Realmente, hoje em dia o uso de cartões de crédito/débito, facilita muito a vida das pessoas. Mas pra quem tem um cartão do Banricompras em Criciúma, não é bem assim.

Ontem eu e meu querido namorado, estávamos caminhando (ele caminhando, eu me arrastando) no calor tórrido de Criciúma, enquanto esperávamos o meu horário no médico. Meu boyfriend abriu uma conta no Banrisul, pra poder receber o salário na empresa em que começou a trabalhar. Quem abre uma conta universitária no Banrisul, tem direito a uma bela mochila!!!

Nós sabíamos disso, e ele sabia que a mochila já tinha dona. Hehe.

Fomos lá e a moça nos disse que deveríamos fazer alguma compra com nosso Banricompras e levar o comprovante ali no banco, para então sair de mochila nova nas costas. Foi aí que tudo começou.

Perto do meio-dia, pensamos em almoçar e pagar com o tal cartão, matar os dois coelhos como uma caixa d'água só, como diria Magda.

Atravessamos a rua e fomos a um café, que abriu recentemente, e com seu ar moderno parecia ter todas as máquinas de cartões possíveis.

Nada. A moça ainda perguntou "Banri o quê?". Tive que apontar pro outro lado da rua e mostrar o banco, bem na frente do café. "Ali na frente fica o banco Banrisul, que tem um cartão chamado Banricompras". Minha paciência às vezes me surpreende. Agradeci à moça por temos feito ela perder tempo nos prestigiando com sua ignorância, e seguimos para o próximo estabelecimento.

Supermercado Bistek (o pequeno). Não tinha local pra lanche e não aceitava Banricompras. Fail.

Restaurante Eliza, no centro. Estava cheio e não aceitava Banricompras. Fail.

Praça de alimentação do Shopping Della. Ali eu jurava que um daqueles trocentos locais pra comprar comida, aceitaria. A moça do Chicken-In até disse pra gente escolher o que iria pedir, pois ela achava que o cartão passava. Não passou. O frango crocante ficou só no meu faminto pensamento. Fail.

Última tentativa, Bistek grande. Ao entrar perguntamos no caixa "Aceita Banricompras?". A resposta foi SIM. Quase abracei a guria, mas como estávamos com muita fome, fomos procurar no mercado algo que lembrasse um almoço. Achamos o local dos lanches!

Até que tinha bastante coisa, mas tinha que comer de pé. Aham, sem local pra sentar e esfarelar seu folhado (como eu fiz) ou tomar o estranho suco de milho (como meu amado fez). Tudo de pé, no balcão do caixa, atravancando a vida das outras pessoas.

Na hora de pagar, a atendente do setor dos lanches se embabacou toda. Mas o que importa é que saiu o comprovante. Enquanto ela imprimia, eu quase pude ler as palavras "vale uma mochila do Banrisul", no papel amarelinho.

De pança cheia, ainda derretendo e agora também com sono (aquele que dá depois do almoço), seguimos para o banco da logo azul.

O amado entrou e voltou com uma mochila (também azul) bem bonita e grande. Bem grande, na verdade. Parece um saco de dormir, mas é bem legal. Enfiei minha bolsa estufada lá dentro daquele interminável espaço, e coloquei-a nas costas. Pra fechar com chave de ouro, ganhamos também um par de Havaianas brancas, com o selinho "Banricompras" em cima. Não aguento mais ler essa palavra. Banricompras.

As Havaianas inicialmente ficariam com o amado, mas no fim da noite, depois da facul, lembrei-o de que sou uma menina sem chinelos, uso a da mãe que é 3 números menor que o meu pé... Coisa e tal e tali coisa... No fim ele concordou em deixar lá em casa, pra usar quando ele for pra lá. o/ Foram meus presentes de natal! A mochila pra eu parar de carregar o notebook numa sacola que fod&*¨%$# com o meu braço, e uma Havaiana que não vai mais deixar o meu oscar (oscarcanhár) encardido!

Ah, o tamanho da Havaiana é universal. Vai parecer uma lancha em mim, mas como pé de pobre não tem tamanho, tá uma beleza!

No fim da história Criciúma me envergonhou! Se vai um gaúcho pra lá só com Banricompras, vai ter que passar o dia bebendo chimarrão pra não desmaiar de fome. Eitcha!

Então é isso, dá licença que vou ali procurar meu amarrador de cabelo. Se eu não escrever outra cônica em breve, chamem os bombeiros, pois provavelmente caí lá dentro e estou vagando na imensidão da Banrimochila.

23.11.09

O Sol




Por Carol Grechi

Ó brilhante, redondo e amarelo Sol. Que faz com que seres humanos do sexo feminino fiquem vestidos com pequenos pedaços de pano enquanto queimam sua pele, estirados na areia da praia, feito lagartixas em dias de calor.

Moças, jovens, velhas, bibas... Todas torrando suas peles e tornando-se iguais as outras, com marquinhas de biquíni basicamente idênticas. Um exército de uniforme bronzeado.

Aí você se pergunta... Mas essa guria deve ser uma infeliz, pra falar com essa ironia atacando as pobres mulheres que perdem um puta tempo estiradas no Sol...

Nada disso.

Eu sou branca. Sabe branca? Mas não clariiinha... É BRAAAAANCA mesmo!!!! Aí passo bronzeador e por mais que eu caminhe 20 km na praia (suposição, é lógico q só caminho 15 min.) minha cor não muda. Não adianta. Dependendo do Sol ainda fico vermelha, e depois volto a brancura de sempre.

Meu protetor? Fator 15. Mas o 60 é bom também.

Aí no verão é só botar uma saia ou algo que mostre as minhas lâmpadas florescentes, digo, canelas, que sempre vem a frase "ô tem que pegar uma Corzinha né Carol?", "tu não mora na praia?"... Etc...

20 anos que ouço isso, todo verão. Sem falta.

Esses dias ouvi o que eu sempre quis... Minha professora me viu de blusa de alcinha e me disse:

-Nossa, como tu é branquinha né? (pensei, ih lá vem o papo aquele)
aí ela me quebra e diz:

- Que linda! Ai eu acho tão bonita pele assim branquinha, nem pega Sol não, vai ficar igual a todo mundo, assim ta bem linda! Minha filha também é bem branquinha, acho tão bonito...

\o/ Minha professora de Teoria e Crítica da Comunicação, sabe das coisas heinhô Batista!

Outra vez fui pro pronto-socorro, com uma dor do ca%$#@!! Achei que era apendicite... Mas não morri, então eram gases mesmo.. Mas daí tava de calção (do pijama, mico, ¬¬ 4 da manhã) e a enfermeira olhou pras minhas pernas e comentou com a outra:

- Olha como ela é branquinha... É um branco bonitinho... Fica bem em ti, moça!

\o/

Branquelas unidas jamais serão vencidas!!! áááááuuuuu!! (esse seria o gritinho do branco moor, M. Jackson, não confunda com o gritinho de ááááu do Frank Aguiar, o cãozinho dos teclados).

13.11.09

A rodoviária.


Desde que passei a morar em Balneário Arroio do Silva, há mais ou menos 10 anos, me acostumei com a realidade de que a minha cidade, mesmo após a emancipação, ainda está muito ligada à Araranguá.

Além do Giassi (e logo mais o Manenti), do Hospital, das 8.956 lojas de eletrodomésticos, do Center Fábricas e da BR 101, tem outra coisa que faz com que ainda sejamos dependentes da cidade vizinha: A rodoviária.

Para ir até Porto Alegre, Floripa, ou Criciúma, ou qualquer outro lugar que não seja a Praia da Meta e o Mariscão, os Arroiosilvenses precisam ir até a rodoviária de Araranguá. Segundo o atual prefeito do Arroio, esta situação mudará em breve...

Enquanto isso, vamos aos fatos.

Um tempo atrás, o David Coimbra disse no PB que achava a rodoviária de Araranguá deprimente. Minha mãe, uma araranguaense que conhece a cidade há cinquenta e #$%& anos, olhou pra mim e depois de um tempo me disse: "Bah, pior que é verdade, que lugar deprimente".

Pra você que não conhece, o local em questão seria mais ou menos assim:

* Para esperar o seu ônibus, podes optar pelas fileiras de cadeiras de plástico laranja de frente pra uma televisão que nunca tem som. A Vantagem desta área é que ela é coberta e serve de abrigo em dias de vento/chuva. Mas está sempre num silêncio sepulcral, exceto pelos bebuns, que ficam resmungando e pedindo moedas para comprar a passagem. A passagem, bem sabemos, é para uma embriaguez sem volta, e o guichê de venda é o bar da esquina.

* Se preferir esperar no ambiente aberto, sente nos bancos de pedra que também existem no local. Só não se mexa muito, pois eles tem algumas rachaduras e são mais velhos que a Ponte da Barranca.

* Está com fome? ao lado do ambiente das cadeiras de plástico, há um bar, que como em toda rodoviária, vende as coisas pelo dobro do valor. Se estiver com pouco dinheiro mesmo, compre um Biluzitos, e se prepare para a sede.

* Se você me levou a sério (!!!) e comprou o Biluzitos, que por sinal também é fabricado em Araranguá, deve estar com a boca parecendo um depósito de sal. Para não gastar com água, toma da pia do banheiro mesmo. Isso se já estiver com a passagem na mão (só pode entrar se apresentar a passagem) e se por acaso o banheiro não estiver com uma corrente, um cadeado e nenhuma explicação visível. Isso acontece de vez em quando, sei por (infeliz) experiência própria.

* Se passar da 6, a banca de revistas estará fechada. Então suas opções de distração se resumem a uma TV sem som.

* Em Porto Alegre sempre vemos muitas pessoas, independente da data ou horário, sempre tem o que olhar... Para se distrair você pode só parar e ficar olhando as pessoas se despedindo, se encontrando, se perdendo, etc...

* Em Araranguá nunca tem mais de 15 pessoas na rodoviária, independente da data ou horário. Acho que todos já sabem que o tédio habita por aquelas bandas, então só chegam em cima da hora pra pegar o ônibus e partir logo do deprimente local. E ninguém se perde ali, seria logicamente impossível, levando em conta o tamanho do ambiente.

* Em Criciúma sempre tem um senhor que está oferecendo canudos de amendoim. Às vezes te oferece até 3 vezes em menos de 10 minutos, acho que ele pensa que a gente pode mudar de idéia de repente, sei lá... Na rodoviária de Araranguá só te oferecem panfletos de concurso público.

* Nos fundo da Rodoviária de Araranguá, está o rio Araranguá. Ele é bonito, quando não chove. Mas os fundos da rodoviária são meio sinistros, o que já elimina mais uma grande oportunidade de distração, que seria ficar olhando pro rio.

Mas como se diz, se não tem tu, vai tu mesmo. E o lado bom da rodov das Araras é que a partir do dia em que você a conhece, todas as outras rodoviárias do mundo serão lindas, alegres, contagiantes e aconchegantes.

Pelo menos uma coisa boa.

I Love Araranguá.
Sem ironia. Conheça o Morro dos conventos que tu vai saber do que eu tô falando.
Mas na boa, vá de carro.

12.11.09

Um empurrãozinho


Era só disso que eu precisava. Um empurrãozinho!

Não, para a alegria de uns e tristeza de outros, não estou à beira de um precipício recebendo meu empurrãozinho. Ele veio através de um mico que paguei ontem, qualquer dia desses eu conto em detalhes, agora ainda estou sorvendo da minha vergonha, que meus colegas de faculdade fazem questão de não deixar cair no esquecimento.

Ta bom, ta bom... Eu conto agora o tal do mico. Quanto antes o mundo souber, melhor.

Ontem assisti a palestra de David Coimbra. Eu admiro o cara. Bastante. Mas não ao ponto de pesquisar meticulosamente a veracidade de sua identidade em sites da internet.

Resumindo:

Passei o início da palestra pensando qual pergunta inteligente e interessante eu faria ao cara que admiro. Descobri que pensar demais nem sempre é o bastante.

Peguei o microfone. Todos olharam pra mim, incluindo o David. Dei um sorriso olhando nos olhos dele e falei:

- Oi, meu nome é Carol. Aproveitando o que tu tava falando da leitura na internet, queria perguntar se tu acha que isso contribui pra difundir a leitura entre os jovens, já que hoje eles estão tão ligados a esse meio digital. Me refiro ao Twitter também, eu tenho o teu twitter e sempre leio o que tu escreve, as histórias e tal.. (na verdade a pergunta foi mais tosca, agora dei uma enfeitada, mas era quase isso).

Então, ele dá um sorrisão de derreter corações, e me diz:

- Mas é um fake, eu não tenho Twitter.

E eu, com cara de tacho, tento me recuperar do choque, e numa última esperança pergunto:

- Sério?

David diz:

- Sim, é um fake, não sou eu. Mas quanto à leitura na internet...


E seguiu me respondendo com um sorriso querido de "ai que dó", enquanto os colegas do curso, os professores e demais presentes ainda riam e falavam "bahhh...". O final da resposta dele pra minha medonha pergunta, como percebe-se, eu não me lembro direito. Acho que ainda tava tentando fazer as minhas bochechas não derreterem de calor, com tantos olhos em mim e os risinhos ecoando.

Depois disso confesso que a palestra perdeu o brilho inicial, pra mim. A frase "Mas é um fake, eu não tenho twitter" ficou martelando na minha cabeça, tipo aqueles desenhos em que o Jerry fica batendo com um martelo colorido e gigante na cabeça do Tom.

Na real queria ouvir mais histórias das viagens dele, mas os colegas só perguntavam sobre o diploma, o diploma, o diploma... O vaso sanitário com jato de água foi uma das histórias dele que gostei. Como escritor que é, ele sabe contar bem as histórias, fazendo com que degustemos cada pedacinho, como um último quadradinho de chocolate que a gente não quer que acabe.

Até as pausas pra tomar água seguravam o suspense nas horas certas.

Quando a palestra acabou, fui lá e fiz uma piadinha muito sem graça tocando no braço dele e dizendo "mas tu é de verdade, né?". Coitado, ainda teve a caridade de dar um risinho, como se existisse alguma graça no meu terrível gracejo.

Entreguei algumas crônicas aqui do Quarto pra ele.

Tirei umas fotos, dei um docinho pra ele... (não sem antes me certificar se ele era diabético ou não.. um mico só, já foi de bom tamanho).

Segui ele até o bar da dona Vilma, fazendo também a infame piada de que "agora eu tava seguindo o David certo". ¬¬

Vi ele ir embora... e foi isso.

Quero de coração agradecer ao David Coimbra, desculpa pelas piadinhas e pela gafe, e obrigada por ser gentil comigo. Obrigada também por me dar um "empurrãozinho" pra tirar este blog do esquecimento, me dando vontade de escrever de novo. o/

até mais.

Carol.

=D