29.1.09

Síndrome do Pânico Capilar


Por Caroline Grechi



Cabelos quase na altura do cotovelo.

Você atravessa aquelas portas com a idéia de sair de lá mais renovada. Senta naquela cadeira que faz doer o pescoço, mas mesmo assim aproveita o momento, enquanto alguém lava os seus longos cabelos com todos aqueles shampoos e cremes cheirosos que só se encontra em um cabeleireiro.

Depois de levantar da tal cadeira com a impressão de que seus ouvidos estão carregando 3 litros de água cada um, encaminha-se à outra cadeira, esta, rodeada de espelhos. Espelhos que lhe mostram detalhes assustadores, que aquele único espelho frontal no seu quarto, lhe poupa de saber (como uma leve calvice no topo da sua cabeça, por exemplo).

Penteiam seus molhados fios. E aí vem a pergunta principal:

"Então, o que vair ser?"

E você reflete, ainda assustada com o efeito dos espelhos, antes de responder:

"Ah, pode cortar uns 3 dedos, só pra ele crescer mais forte.. se puder dar uma repicada também, pra ficar mais volumoso né.. ele é bem fininho e tal.."

E lá vem ela, a tesoura. Crect, crect.. e os pedaços caindo..

E você se perguntando se a pessoa cortando seu cabelo entendeu que os "3 dedos" seriam de uma mão normal.. não de uma mão de gigante. Crect, crect...

Opa!você falou pra cortar "3 dedos" ou um braço inteiro??

Algo está errado, os pedaços caindo no chão parecem bem maiores do que você imaginava, mas agora nao adianta falar... Vai fazer o quê? deixar metade curta e metade comprida?? Que continue o assassinato capilar e seja o que Deus quiser.

Depois da tesoura vem a navalha. Pra fazer o tal efeito desfiado que você pediu...

Se soubesse que ia ficar parecendo um espantalho alguns minutos depois do pedido, talvez você tivesse dado meia volta na rua em frente ao salão. Mas tudo bem, sempre com aquela cara de paisagem, você espera a coisa acabar, rezando pra que afinal de contas nao fique tão feio assim.

Hum... talvez depois de secar melhore um pouco. "Quer dar uma secadinha?" pergunta a pessoa, e você responde "uhum" em vez de dizer o que realmente pensou... Algo como: "claro! pior do que tá não fica né...".

Realmente, o corte ficou combinando... Combinando com uma plantação de milho e um boneco de braços abertos pra espantar os urubus. Céus... muita calma nessa hora. Você sorri e diz com toda simpatia "nossa, bem melhor! fiquei mais.. leve né? hehe.. gostei". Sim, você merece um Oscar.

Sorte que na rua não tem ninguém, (é quase meio-dia) e até a sua casa as possibilidades vão se formando:

* Chorar até não querer mais? Não, não temos tempo pra isso.

* Xingar a pessoa que segurava a tesoura? Não, você tambem não falou nada, então consentiu com a coisa toda.

* Lavar a cabeça pra tentar dar uma ajeitada? Sim, parece uma boa idéia...

Secador de cabelos, um pente de plástico e uns 15 minutos. Hum... Até que não ficou tão mau...
Se soubesse você mesma tinha feito o estrago em casa (e de graça).

Hora de pegar o ônibus, sua mãe (sabendo que cada frase dita que contenha a palavra "cabelo" pode ter efeitos devastadores) sorri e diz: "Ah, mas agora ficou bom, filha... e daqui a pouco cresce..."

Claro mãe, daqui a pouco cresce.

No ônibus a situação não é das piores, devem achar que você é mais uma emo revolucionando os padrões de estética. (Sim, caso não tenha ficado claro, estou sendo irônica. ¬¬)

Mas no calçadão da cidade em que você trabalha, a impressão é de que todos estão virando o pescoço para ver o que é "aquilo". Claro que sua paranóia aumenta a proporção em 200%, se 3 pessoas olharam duas vezes, foi muito.

Droga, maldito espelho no banheiro do escritório... Será que os espelhos se multiplicaram?..
"Cortou o cabelooo???", pergunta sua colega. Nãão, tirei pra lavar ¬¬.

Claro que mais uma vez o que sai da sua boca é só um simples e indiferente "uhum".

Pois é... pelo menos dessa vez vai ser impossível seu namorado não reparar. E depois de rir durante uns 47 minutos ele vai te olhar e dizer "Tô brincando amor, ta linda!"

E mais uma vez a resposta será um mero: "Uhum", que se repetirá por mais alguns meses, até você se curar da indignação, tristeza e revolta básicas causadas por uma "Síndrome do Pânico Capilar".